sábado, 30 de abril de 2011

Pankararu

Diego Alves Silva e Ruana Tamires de A. R. Amorim.[1]


            O Grupo indígena Pankararu ou Pankaru habita o sertão do São Francisco. Atualmente a população é estimada em 4.146 índios, ocupando uma área de 14.294 há.
Naturalmente, as áreas mais férteis foram ocupadas inicialmente, razão pela qual o Brejo dos Padres, um pequeno vale onde se encontram inúmeras fontes d’água e a partir do qual se espalhou a população, permaneceu como centro da reserva. Levando-se em conta a população atual e a sua necessidade de terra agriculturável, o Brejo dos Padres é uma localização muito pequena, onde, além de roçados, destaca-se, principalmente, grande quantidade de fruteiras e a maior concentração de população da reserva. Ao lado da igreja existe algumas habitações que delimitam o pátio onde se desenvolvem os festejos populares de cunho religioso.
Do outro lado das serras que formam o vale, onde se localiza o Brejo dos Padres, está situada a Tapera, segunda localidade mais importante do ponto de vista de ocupação espacial. Na Tapera existem fontes d’água, uma fruticultura bastante desenvolvida e sua paisagem é marcada pela vegetação exuberante própria dos pés-de-serra; a área de terra agricultavel é bem maior do que a do Brejo.
Serrinha, Marreca, Caldeirão, Bem-Querer e Cacheado são outras localidades mais importantes e onde a agricultura é mais desenvolvida. Atualmente, Caldeirão, Bem-Querer e Cacheado são focos de conflitos com posseiros não índios, pela posse da terra.
SITUAÇÃO DA TERRA
A referência histórica mais antiga e precisa sobre este grupo data do surgimento da antiga vila de Tacaratu no século XVII. Sabe-se que a atual sede do município foi primeiro uma maloca ou ajuntamento de índios Pankararu, denominada Cana Brava.
Em 1855, a população da aldeia era de 580 índios, reduzidos em 1861, a apenas 270. Nesta mesma época foi registrada a presença de posseiros brancos nas terras doadas aos índios por carta Régia de data ainda imprecisa.
SITUAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA
A base da economia Pankararu é a agricultura e a comercialização do que é produzido, sendo complementada por alguma atividade artesanal ou de transformação.
Toda a produção é fruto do trabalho do núcleo familiar, inclusive de crianças, e ao contrário de outros grupos, não se ouviram notícias de "índios sem terra". No entanto, há casos raros de índios que, por conta da idade avançada ou pela ausência de filhos, não tem roça. Foram encontrados alguns velhos em estado de quase indigência, sobrevivendo de algum trabalho artesanal, como cestos feitos de cipó, ou de favores de outras famílias.
O trabalho da terra é atividade predominantemente masculina e ocupação principal do chefe da família, havendo, entretanto, participação da mulher e filhos nas épocas de plantio e colheita. O artesanato Pankararu emprega, quase que exclusivamente, mão de obra feminina na feitura de abanos, cestos, bolsas (cipó), vassouras, mantas e potes de barro. O trabalho das mulheres envolve a coleta, o tratamento e uso de cipós, de palha do ouricuri e da fibra do caroá, materiais básicos usados no artesanato.
Em relação a educação escolar, a área é dotada de escolas de alvenaria com professores índios contratados pela FUNAI e pelas Prefeituras, atendendo as crianças de 1ª a 4ª série. Após concluírem o 1º grau menor os estudantes se deslocam para as sedes dos municípios para dar continuidade aos estudos.

MANIFESTAÇÕES CULTURAIS
Próprio nome pelo qual o grupo indígena Pankararu é identificada - o Brejo dos Padres - evidencia o papel desempenhado por missionários católicos, responsáveis pela fixação definitiva da tribo no local onde vive.
Em conseqüência deste trabalho missionário, os Pankararu cultuam a religião católica e observam o calendário de festejos populares de cunho religioso, no mesmo estilo das populações sertanejas. Paralelamente e com igual fervor, eles mantêm rituais, danças e folguedos da cultura indígena.
Este mesmo entusiasmo, pelo que foi visto e pelas declarações obtidas, é dedicado aos festejos de caráter completamente diverso daquele da Igreja Católica: são as crenças, os rituais e as danças indígenas. Em relação a estas manifestações eles guardam uma certa reserva. Foi no entanto, possível identificar uma série de rituais, sendo o toré o realizado com maior frequência.
O Toré é dançado ao ar livre por homens, mulheres e crianças, em qualquer época do ano, dependendo apenas da disposição da comunidade. Para os Pankararu, o Toré é uma expressão de contentamento, um folguedo a que se entregam freqüentemente "se a vida não estiver muito difícil pela falta de chuva". Dança-se, de preferência, nos fins de semana "sem hora para terminar, varando noite e dia" em certas ocasiões.
Existe um ritual Pankararu chamado "Praiá" que celebra a iniciação dos meninos, em torno dos doze anos, nos segredos da seita, sendo os praiás os componentes desta sociedade secreta e protetores espirituais do grupo. A cerimônia tem lugar num rancho previamente armado para este fim, onde a criança, pintado de branco e vestida de palha de ouricuri, é disputada por dois grupos, um formado por protetores mágicos e o outro pelos padrinhos. Trava-se uma luta que termina com a vitória dos sacerdotes e a destruição do rancho. No final, entre danças e cantos, a criança é conduzida a presença do sexo feminino. Da descrição feita por uma índia no Brejo dos Padres, deduz-se que a cerimônia, hoje, está muito modificada ou, a exemplo do cacique da tribo, a declarante não quis expor os segredos dos “trabalhos que a gente faz só prá nós mesmos”. Segundo o seu relato, a festa é chamada "menino do rancho" e é dedicada a Mãe D’água que ameaça roubar a criança. Temendo perder a criança, a mãe promove a festa para apaziguar a Mãe D’água. Os Praiás, que são em número de vinte e dois, são os padrinhos secretos da criança e escondem a sua identidade com longas vestes, cobrindo totalmente os seus corpos. O ritual culmina com a destruição do rancho, enquanto os participantes dançam o toré. No final, um banquete é servido a todos pela mãe da criança.
A "Festa do Umbu" tem acentuado espírito desportivo; nela os índios demonstram sua força e destreza. A cerimônia é realizada no começo do ano, quanto aparecem os primeiros frutos do umbuzeiros. O primeiro fruto encontrado é trazido "ao dono do terreiro poente" e preso a um fio entre duas forquilhas. Os índios, pintados de branco, usando vestes de palha de ouricuri ou caroá, armados de arco e flecha, tentam um a um, flechar o umbu. Aquele que consegue, recebe como prêmio um resistente cipó. Começa então a prova do puxamento do cipó, na qual um grupo ao lado do nascente procura arrastar outro colocado ao lado do poente.
Outras danças, no entanto, nada têm de violência. Na "Dança dos Bichos", por exemplo, os ganhadores são os que melhor conseguem representar os movimentos de animais como o porco, o cachorro, a formiga e o sapo.
São nas danças e rituais que parecem ter resistido os traços mais fortes da cultura dos índios Pankararu. Do dialeto do grupo, existem vestígios nos cânticos que acompanham as danças e notícias de raros índios mais idosos capazes de falar em sua língua ancestral.




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